A Vida das Coisas

De onde vieram as coisas em "A Vida das Coisas"?

Nosso processo veio inteiramente de improvisações durante as aulas com os participantes. Podiam haver estímulos definidos, mas cada cena, ação e gesto, é criação autoral dos atores meninos. O tema estava definido - após algumas improvisações, vi que muita coisa vinha da relação com objetos ou da animação (no sentido de almar as coisas) de seres não-orgânicos, vamos dizer assim. 

 um exército de flores

Então eu pedi que os meninos falassem sobre as almas das coisas. E a Mel veio com uma fala muito bonita sobre como as crianças olham pro mundo com um olhar de novidade, de imaginação, de possibilidades, e como isso vai se perdendo ao longo da vida, nos adultos e mesmo nas crianças, quando vão crescendo. 

Sem ela saber, estava definida a primeira cena. Outras cenas vieram de situações ou personagens nascidos em improvisações com figurinos, ou seja, a partir da relação com as roupas, ou ainda - com coisas e objetos. 

A cena sobre a Festa de Aniversário do Celular veio do conto "Preâmbulo às Instruções para dar Corda no Relógio", do Cortázar, no livro Histórias de Cronópios e Famas. O conto fala sobre como o relógio vira um tormento, uma obrigação, você não pode quebrá-lo, não pode perdê-lo, ele deve ser melhor e mais caro que o dos seus amigos, no fundo ele é seu dono. É você que é oferecido no aniversário do relógio. Assim que lemos o texto, todos disseram - mas isso tem a ver com o celular. E assim foi. 

Outra cena que teve inspiração literário veio de um conto de Andersen, "As Flores de Idinha", onde uma menina descobre que as flores com as quais brinca ganham vida e dão bailes quando ela não está vendo. Por coincidência, a menina que brinca com as flores foi justo a Rosa, nossa menina flor. 


Além dos estímulos a partir de fragmentos de texto, uma das provocações principais era imaginar como as coisas nos enxergavam, ou ainda, como um objeto interpreta um ser humano. E assim surgiu a cena das casas, conversando sobre como os humanos tem janelas esquisitas, cortinas irregulares - loiras, enroladas, como ao invés de soar alegres campainhas os humanos fazem uma coisa chata e barulhenta que eles chamam de "fala".


Como professora, como artista e como adulta que não esqueceu seu imaginário juvenil, eu não poderia estar mais feliz, orgulhosa e agradecida com o trabalho destes meninos incríveis!


Um comentário:

  1. enxergar o mundo por outros ângulos é o melhor exercício de empatia, exatamente aquilo que nos fez ganhar o título de "humanos". parabéns, Anna & turma. esse tema dá infinito pano pra manga.

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